Não é só a sexualidade feminina que está condicionada

Se é verdade que é urgente a libertação sexual feminina, devido a séculos de castração, que deram origem a vários traumas e bloqueios sexuais e emocionais, a sexualidade masculina também carece de uma reconfiguração.

Culturalmente e nos comportamentos pessoais, observo múltiplas noções limitativas e estereótipos pouco capazes de expressar os vários ingredientes que o homem precisa para a sua satisfação e plenitude na intimidade.

Quer na pornografia, quer no cinema e meios de comunicação é retratado um homem musculado, ostentando sinais de status e com muita potência sexual. Esta é uma visão materialista e orientada para o resultado e o desempenho, em que agir é mais valorizado do que sentir.

Mas a realidade não tem de ser essa!

Sexualidade masculina: As consequências evidentes da sexualidade condicionada

 O sexo não é algo que se faz. É uma conexão que nutre e expande. Por isso, não tem a ver apenas com a função dos genitais.

Pede a abertura e a recetividade do coração. É a partir do coração que mostramos quem somos, podemos ligar-nos à outra pessoa e a conexão, que não é palpável mas sente-se, acontece.

Devido a condicionamentos culturais, sentir e expressar emoções é um território estranho ou desconfortável para a maioria dos homens. Está normalizado que os homens expressam fisicamente interesse e amor, o que muitas vezes, se limita ao sexo.

Mas estas crenças podem trazer consequências, sendo elas:

– Pressão para corresponder a todo o tempo ao ideal de homem forte e viril;
– Emoções reprimidas porque ser vulnerável não corresponde aos papéis masculinos;
– Carência de toque amoroso;
– Incapacidade persistente de gerir o ímpeto vulcânico da sua energia sexual, levando a relações sexuais de duração curta e sem ligação emocional;
– Excitação muito focada no aspeto visual, seja da parceira, seja com a pornografia;
– Motivação primária para o sexo é a descarga fisiológica da energia sexual;
– Parcerias sexuais pobres, com ausência de intimidade emocional e a consequente sensação de vazio.

Também por força dos papéis sociais, os homens foram impulsionados a agradar à mulher. Dessa forma, a satisfação dela ativa-lhes a força e o poder e sossega-lhes o medo predatório de perdê-la para outros homens.

Eis que, porém, se dá um desencontro fundamental: para sentir desejo sexual, a mulher precisa primeiro, geralmente, de sentir a ligação emocional, a troca empática e vulnerável, seja através de conversas, seja por meio de carícias e romance.

O que a Sexualidade Consciente oferece aos homens

A Sexualidade Consciente para os homens oferece a possibilidade de descoberta do próprio corpo e do seu órgão genital à luz de conceitos positivos, de ligação à energia erótica e ao sentir que é precisamente a chave para melhor conduzir a energia sexual e partilhar intimidade emocional.

Por fim, a adesão de mais homens a esta via de desenvolvimento pessoal está profundamente ligada à desvinculação a tabus e à abertura à noção de que todo o corpo foi feito para sentir prazer e que, se querem ser melhores amantes para si mesmos e nas suas parcerias, terão de trilhar o caminho da abertura do coração, da exposição vulnerável, da sensibilidade aos ritmos e necessidades da outra pessoa.

No fim, entenderão que isso também é ser viril.

Como desenvolver a sexualidade sem sexo?

Como desenvolver a sexualidade sem sexo

Se começarmos por perceber que a sexualidade não anda à volta apenas do contacto sexual com uma parceira, vamos perceber muitas outras coisas! Há uma crença que se instala que, se não estivermos atentas, pode trazer consequências para a vida sexual: a de que se não estamos a ter sexo, não estamos a ter vida sexual.

E é para desmistificar esta crença que te trago este artigo hoje. Vou falar-te um pouco mais sobre o tema, para que compreendas que a vida sexual é um A a Z de possibilidades.

Continua a ler!

Sexualidade não é só sexo

Em 2002, a Organização Mundial de Saúde definia assim a Sexualidade: “(…) é um aspeto central do ser humano ao longo da vida e inclui o sexo, o género, as identidades e os papéis, a orientação sexual, o erotismo, o prazer, a intimidade e a reprodução. A sexualidade é experienciada e expressa através de pensamentos, de fantasias, de desejos, de crenças, de atitudes, de valores, de comportamentos, de práticas, de papéis e de relações.”

A vida sexual é um mundo! Neste artigo, destaco-te algumas práticas essenciais para abraçares a tua sexualidade integralmente:

  1. Lista as coisas boas que o teu corpo já vivenciou para aprimorar a sexualidade

Já reparaste que temos tendência para enfatizar o que correu menos bem e as experiências negativas? É uma pré-programação do cérebro para não pôr em risco a sobrevivência, mas, na realidade, ela não está assim tão ameaçada hoje em dia e o prazer precisa de conexão ao que faz sentir bem.

– Faz uma lista de todas as coisas boas que o teu corpo já sentiu: aquele abraço, a brisa morna de verão a tocar-lhe as costas, o corpo da tua parceria colado ao teu, o cheiro do teu bebé, a textura do teu tecido preferido são alguns exemplos.
Acolhe o simples, o banal, o que acontece sem fazeres até nada por isso. Esta prática tem o poder incrível de exercitar a tua mente para focar-se no bom em geral e no bom presente, mesmo em condições adversas.

  1. Dá uma atenção extra aos sentimentos e paixões

Tens direito a ter paixões e a dedicar-te a elas, seja nos tempos livres (que até podes “roubar” aos momentos em família), seja largando certos deveres e contratos.

Por outro lado, é fundamental não reprimir certas emoções, porque isso vai reprimir o prazer também. Chorar é catártico, estar triste faz-nos perceber o que é importante para nós, sentir medo mostra-nos a vulnerabilidade.

– Percebe quando um sentimento aflora, quão o abafas e tentas controlar. Respira fundo, relaxa e sente-o inteiramente.
– Depois, percebe como ele passou e estás pronta para sentires outros sentimentos.

  1. Desenvolve a intimidade no plural 

A intimidade é dar-se a conhecer e querer conhecer a outra pessoa, mas isso não significa apenas nudez e sexo.

Há diferentes tipos de intimidade e diversas formas de aplicar cada tipo: a física, a emocional, a intelectual e a espiritual.

O que é que realmente significa dizer “eu amo-te” se, na prática, não sentimos esse amor a ser demonstrado? Intimidade é dar a conhecer o que para nós são as demonstrações de amor que precisamos e gostamos, e corresponder às expressões de amor que o outro reconhece. Isto é amar, ou seja, o amor em ação e é nisto que nos devemos lambuzar!

Como está a tua intimidade na cama e fora dela?

Como está a tua intimidade na cama e fora dela?

Quando falamos em intimidade, muitas vezes a primeira ideia que nos surge é a relação da mesma com a sexualidade. É normal!

Contudo, não é apenas de sexo que te falo aqui. A tua vida íntima é um misto entre aquilo que sentes, quer no campo emocional quer no físico, e aquilo que vives. Nem tudo se resume só ao carnal.

Já alguma vez te sentiste incapaz de te relacionar, amorosamente ou sexualmente falando, porque o teu emocional te bloqueava? Isto já aconteceu a grande parte das mulheres, não te sintas sozinha. Não estás!

É por isso que te escrevo sobre este tema, para que percebas que a tua intimidade tem muito que se lhe diga. E, talvez, não tenhas ainda descoberto nem metade. Mas eu vou ajudar-te com estas dicas, que farão com que te compreendas melhor e compreendas a tua parceria.

Intimidade: Dicas para começares a ter uma vida íntima saudável e plena

O teu emocional vai sempre alertar-te das tuas inseguranças que, convenhamos, não nos ajudam nada em alguns momentos (que chatas!).

Ter uma vida íntima saudável e plena só se consegue como resultado de um processo duradouro de autoconhecimento. Tu precisas de te conhecer bem para te sentires confortável com o outro, caso contrário sentirás sempre que falta algo. E, nesse caso, a intimidade entre vocês não vai ser tão prazerosa!

Por isso, elaborei uma lista com 4 dicas que considero importantes para manteres o equilíbrio entre o que pensas, sentes e te permites viver.

1. Entrega e vulnerabilidade 

Presta toda a tua atenção, no dia a dia, ao número de vezes em que:

  • Te oferecem ajuda e apoio;
  • Te fazem um elogio;
  • Te convidam para algo;

E a tua resposta imediata é: Não.

Muitas das vezes, não é porque não concordas ou não queres.

É porque carregas uma armadura de proteção emocional que previne que te magoes ou sofras desapontamentos.

O problema é que essa armadura previne também que te conheçam na essência.

E, só assim, revelando a tua essência podes ser amada e sentir-te merecedora.

Começa por dar os Sim mais fáceis para ti
, ou seja, aqueles que não te exigem muita exposição emocional.

Assim, ganhas confiança para te abrires de maneira mais plena nas tuas relações significativas.

2. A abertura emocional da tua parceria 

Ahhh, quando queremos que o outro se revele para nós primeiro, como condição para nós depois nos abrirmos… Quem nunca?!

O outro, muitas vezes, não o faz porque tem direito às suas inseguranças e isso gera em nós frustração e raiva.

Na prática, começamos a cobrar, a manipular, a questionar os sentimentos do outro e a relação, o que só leva a que o outro se retraia ainda mais. Naturalmente!

Desenvolver a empatia é a chave:

  • Reconhecer perante o outro que o terreno das emoções e das feridas é efetivamente assustador, mas que estás segura que, juntos, conseguirão enfrentar a questão; 
  • Oferecer apoio livre de tensão: sem impor um timing, comunicar que estás lá para quando a pessoa quiser partilhar mais acerca dos seus medos e inseguranças; 
  • Dar o exemplo, não é?! E aceitar que o outro se mantenha fechado. Se te escutou, sem críticas e tentativas de solução, já está a fazer a sua parte na intimidade saudável da vossa relação. 

3. Ter momentos de conexão contigo mesma 

A ligação ao corpo pode parecer uma coisa complexa para quem anda mais na cabeça e na rotina. Entendo!

Por isso, gosto sempre de sublinhar que comportamentos simples – os mais básicos mesmo – ajudam imenso.

Como fazer:

  • Ficares offline quando estás na natureza, ou a cuidar do teu corpo, ou imersa numa atividade nutritiva como ler, cozinhar, fazer exercício físico ou conversar com as amigas;
  • Tirar um momento do dia ou da semana para autorefletires: seja trazer uma memória do passado que te incomoda, seja rever uma atitude que tiveste no dia anterior, o que interessa é responderes: como posso olhar para a situação à luz da mulher que sou hoje?
  • Passar scans ao corpo ao longo do dia: sentir a temperatura, o grau de tensão física, o cansaço ou a energia a circular, assim como a sua reação aos estímulos externos (visuais, olfativos, auditivos, táteis e do paladar). 

 

4. Tomar a iniciativa no sexo

Esta dica ficou para último pois acredito que, ao integrares na tua vida as dicas anteriores, será não só mais fácil, como te apetecerá tomar as rédeas na intimidade.

Pede, sugere, puxa para ti o toque que queres sentir, as palavras que queres ouvir, os movimentos que desejas.

Sim, estou a falar dos ditos preliminares – que são já sexo – e não propriamente da penetração.

Nem todos os dias te vai apetecer sexo penetrativo, é natural.

Mas um cafuné, um piscar de olho sugestivo, um apalpão gostoso, caramba, devem ser dados e recebidos com frequência. Vamos!

Se chegaste até aqui foi ou por curiosidade no tema ou porque sentes que a tua intimidade precisa de levar uma voltinha, não é verdade? Começa a colocar em prática as dicas que te dei e verás que te sentirás muito mais aberta ao que te chega.

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